International Symposium on Immunobiologicals atrai centenas de pessoas de diversos países
A importância da cooperação entre instituições como Bio-Manguinhos e da valorização de políticas como o Sistema Único de Saúde (SUS) para o desenvolvimento científico em prol da saúde pública foram destaques nas palestras do primeiro dia do 8th International Symposium on Immunobiologicals. Na abertura do simpósio, o diretor do Instituto, Mauricio Zuma, celebrou o sucesso da edição, que teve na abertura (07/05) mais de 800 presenças, além de ser acompanhado online por pessoas de pelo menos nove países, atentas às falas sobre biotecnologia, pesquisa e inovação, entre outros diversos temas. “Os resultados são para a saúde pública nacional. Com certeza vamos ter resultados promissores para o nosso país’, destacou.
Tedros Adhanom, presidente da Organização Mundial da Saúde (OMS), destacou a relevância de parcerias de Bio-Manguinhos com outros países, favorecendo a expansão da produção. Representante da Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no Brasil, Socorro Gross reforçou a necessidade de integração e manutenção do investimento em mercado de produtos, alavancado pela pandemia. Sobre a atuação da Opas na cooperação da América Latina,” afirmou: “Nossa região tem oportunidade de trazer uma aliança de inovação e produção para a saúde. Há uma grande possibilidade no Brasil, a maior política de proteção social que poderíamos aspirar, que é o SUS, com uma capacidade muito ampla. Temos o Brasil como nossa oportunidade na região das Américas e Caribe”.
Representando o Ministério da Saúde, Marcelo de Matos abordou o fomento da transferência de tecnologia, desenvolvimento de soluções inovadoras e incentivo à produção nacional. Assunto que teve reforço na fala de Mario Moreira, presidente da Fiocruz: “Bio-Manguinhos tem papel fundamental no equilíbrio da balança comercial brasileira, um setor que exporta e é gerador de emprego e renda. Temos o SUS como pivô desse desenvolvimento, já que o Brasil é o grande consumidor. O país desenvolveu a capacidade industrial, e Bio é exemplo que produz”, disse, citando como exemplos o Complexo Industrial da Saúde e o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde.
Um consenso entre os palestrantes foi a grande expectativa sobre o papel do Instituto no esforço mundial de redução das assimetrias em saúde. Como um dos principais fatores, há o fato de a instituição ser hub da OMS para produção de vacinas com a tecnologia de RNA mensageiro para atender o Brasil e região, além de formar quadros, favorecendo a autonomia e contribuindo como um ator global de importância central estratégica. “Frequentemente a América Latina começa do zero. Com Butantan e Bio-Manguinhos, o continente avança em desafios tecnológicos para fomento da produção”, afirmou o diretor da Opas, Jarbas Barbosa, defendendo que, para enfrentar as ameaças contra a saúde pública, a inovação é o caminho para facilitar o acesso e ainda gerar empregos.
Olhar para o passado em busca do futuro
No painel “Preparedness for the future epidemics: surveillance and scientific & technological development”, liderado por Julio Croda, da Fiocruz, Meiruze Freitas, da Anvisa, apresentou o tema “Rolling submission process: lessons learned from Covid-19″, tratando como as agências regulatórias trabalharam na pandemia para levar a vacina à população. Em “The impact of covid-19 in Africa and lessons for the future”, Christopher Gill, da Bill & Melinda Gates Foundation, apresentou o “Paradoxo da África”, estudo com mortos no continente que mostrou a subnotificação de covid-19, trazendo à luz a real mortalidade pela doença na região. O estudo concluiu que 90% dos mortos em necrotérios estavam positivos. Muitos dos afetados pela doença não foram testados, por não haver exames, o que Gill define como “uma ausência total de dados, um ponto cego absoluto”.
“Strenghtening regional production facilities as a solution to the Global South emergent vaccine demands”, o segundo painel do dia, discutiu “o assunto mais importante para a saúde humana quando se trata de vacina”, segundo Rajinder Suri, CEO do Developing Countries Vaccine Manufacturers Network (DCVMN). Apresentando uma rede de 45 produtores de vacinas envolvidos em todas as etapas, desde a pesquisa até a entrega, apontou que mais de 60% das contribuições em vacinas na pandemia vieram de países em desenvolvimento, frisando a importância do trabalho em equipe e da atuação de agências reguladoras para acelerar o processo de aprovação.
Investimento para evolução
O assessor científico sênior de Bio-Manguinhos, Akira Homma, na palestra “The Brazilian Economic and Industrial Complex: How to Achieve Maturity and Self-Sufficiency?”, lembrou a criação do Programa de Autossuficiência Nacional em Imunobiológicos, em 1985, que possibilitou a modernização dos Institutos Butantan e Bio-Manguinhos. A força brasileira foi reafirmada por Odilon José da Costa Filho, da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades: “Precisamos pensar no SUS. Não há como falar dele sem falar de acesso. A gente precisa voltar o olhar para isso”, disse, defendendo a criação de um polo industrial. “Importamos 90% dos nossos insumos. Produzimos apenas 10%. Precisamos de uma política de estado”, comentou, apontando a falta de continuidade das políticas públicas e a necessidade de que sejam mais sustentáveis.
Seguindo a lógica da valorização nacional, Luiz Marinho, representando a Associação dos Laboratórios Oficiais do Brasil, exaltou instituições brasileiras: “A força de Butantan e de Bio-Manguinhos é por causa de uma política de estado, o Programa Nacional de Imunizações, que foi criado em 1973”, afirmou, ressaltando o papel estratégico de laboratórios nacionais. A programação se encerrou com o lançamento do livro Tratado Brasileiro de Biotecnologia em Saúde – da bancada ao leito, seguido de sessão de autógrafos. A publicação é uma iniciativa de Bio-Manguinhos e da Sociedade Brasileira de Reumatologia. A oitava edição do ISI acontece até o dia 10 de maio na Fundação Getúlio Vargas e online. O simpósio é híbrido e gratuito. Confira em isi.bio.fiocruz.br.
Texto: Maria Carolina Avellar
Imagem: Gabriella Paredes